Diogo da Costa Salles
Com a recente polêmica da escola militarizada de Manaus e o vídeo feito em favor do deputado Jair Bolsonaro, a impressão era que o caso havia colocado o Movimento “Escola Sem Partido” em rota de colisão direta com um de seus principais padrinhos políticos.A aliança entre “escola sem partido” e família Bolsonaro começou a aparecer de forma mais explícita desde 2014, quando Miguel Nagib, fundador do movimento, foi convidado por Flávio Bolsonaro (PSC), deputado estadual pelo Rio de Janeiro, para redigir o primeiro projeto de lei que visava introduzir o “Programa Escola Sem Partido” enquanto uma política pública de ensino. A situação de Manaus evidenciou algumas das contradições entre o discurso do “escola sem partido” e as condutas de sua base política.
A princípio, a reação do movimento, representado principalmente por Nagib, foi criticar a atitude dos responsáveis pelo vídeo, acusando o caso como “escandaloso.” Esses comentários foram seguidos de várias críticas ao movimento por de partidários de Bolsonaro e pareciam indicar uma ruptura entre Nagib e os principais adeptos do grupo. No entanto, é importante observar que essas primeiras manifestações do “escola sem partido” sobre a polêmica de Manaus em momento algum criticam ou sequer mencionam o envolvimento de Jair Bolsonaro no ocorrido. Vale lembrar que o vídeo com a “homenagem” dos estudantes da escola administrada pela Polícia Militar foi compartilhado pelo próprio deputado e ainda se encontra disponível em sua página. A resposta do parlamentar à repercussão causada pelo vídeo se resumiu a desconsiderar quaisquer indicações da irregularidade da situação. No entanto, em meio a tudo isso, Nagib faz questão de ressaltar que, ao condenar o vídeo “[n]ão estou me referindo à família Bolsonaro, mas aos seus apoiadores”.
O que se observa agora é que, após se colocar no pedestal moral da opinião pública com suas críticas superficias e vazias, Nagib e seu grupo estão buscando desviar a discussão de maneira a livrar seus patrocinadores da família Bolsonaro. Desde o começo da semana várias publicações da página do “Escola Sem Partido” demonstram as tentativas do movimento para diminuir a seriedade da situação basicamente dizendo que o “outro lado” sempre fez “muito pior”. A ideia parece ser transformar Jair Bolsonaro na vítima de uma conspiração secreta envolvendo os espantalhos preferidos do movimento: a “grande imprensa” e os “universitários esquerdistas”.
A narrativa que o “escola sem partido” está tentando consolidar também pode se reverter em frutos para o próprio movimento. A nova estratégia retórica é afirmar que a “corajosa” postura crítica de Nagib “implodiu os principais argumentos da extrema-esquerda contra o Escola sem Partido”, pois teria evidenciado que o movimento não está preocupado em assumir lados, mas sim reforçar princípios legais que devem valer para todos. Porém, esses princípios não parecem se aplicar à família Bolsonaro, que, em troca do apadrinhamento político de Nagib, escapa tranquilamente do radar do movimento quando suas atitudes não são convenientes para o discurso do “escola sem partido.”
Não aceito mordaça! Como educadora estou nessa luta!
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Escola sem partido é. Escola sem professor
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