Nessa última semana, uma campanha contra censura e perseguição política nas escolas mobilizou os professores do Colégio Lina Morgenstern, em Berlim. O motivo da ação se deu após o partido de extrema-direita alemã, o Alternativa para a Alemanha (AfD), ter lançado um site onde estudantes poderiam enviar denúncias contra professores que violassem os pressupostos do que o partido entende por neutralidade.
Os professores berlinenses decidiram se auto-denunciarem em conjunto, como forma de protesto contra a manipulação de crianças e jovens, que estariam sendo usadas como informantes dos seus próprios professores. Em uma carta aberta ao partido, o corpo docente da escola afirma que
Da história, sabemos que o que começa com denúncia e intimidação termina com a detenção de dissidentes em campos. Por todas essas razões, e porque não estamos intimidados, ficaríamos honrados se você pudesse colocar nossos nomes em sua lista de denúncias.
O sindicato de trabalhadores em educação e ciência da Alemanhã estimulou que outras escolas fizessem o mesmo De acordo com matéria publicada no The Independent:
A AfD diz que a sua página para informantes, chamada “Escolas Neutras Online”, é uma ferramenta essencial para evitar a doutrinação nas salas de aula e proteger a liberdade de expressão. Ela diz que o site foi projetado para ajudar os pais a impedir que seus filhos sejam manipulados por professores de esquerda.
Exemplos de supostas ofensas apontadas pelo AfD variam de encorajar os alunos a participarem em protestos anti-AfD a “críticas grosseiras do AfD” ou “materiais de aprendizagem incorretos e subjetivos”.
A ação da AfD lembra muito o Escola Sem Partido e outra iniciativa semelhante que tentou ser implementada aqui no Brasil pelo jornal Gazeta do Povo, o “Monitor da Doutrinação”. O caso da Alemanha é mais peculiar devido à vinculação direta da ação com um partido político. Porém, isso pode estar prestes a não ser mais o caso aqui no Brasil.
Logo após a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais, casos de políticos e figuras públicas convocando estudantes a denunciarem professores que criticassem os resultados do pleito já começaram a surgir. Não parece exagero imaginar que depois do fortalecimento do PSL tanto no legislativo quanto no executivo, iniciativas semelhantes de assédio em massa a professores comecem a se tornar cada vez mais comuns.
A estratégia utilizada pelos professores de Berlim pode servir de exemplo para os desafios que nos aguardam aqui no Brasil. Ações coletivas que deem mais coesão para a categoria docente além de possibilitar uma interação maior com a sociedade é um caminho possível para a luta. É preciso aproximar as pessoas das disputas políticas pela via dos afetos.
A força das campanhas recentes para virar votos mostraram o quão necessário é levar as mobilizações não só para os ambientes online, mas também para as ruas. Essas eleições nos ensinaram a importância de sentar e conversar com os outros, ouvir para sermos ouvidos. Bots e disparos automáticos via WhatsApp podem até ter feito a diferença, mas ocupar novamente as ruas mostrou como podemos desmontar esses sistemas que apostam cada vez mais na passividade e desinformação. É nisso que o fascismo e o conservadorismo apostam pois eles prosperam na despolitização da sociedade. Nossa estratégia precisa seguir o caminho oposto.
Republicou isso em A Estrada Vai Além Do Que Se Vê.
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Sou educadora e temo pelo futuro das novas gerações, a liberdade de expressão é um direito do ser humano, portanto assino essa petição contra escola sem partido para que sejamos livres para sermos o melhor e não seres fabricados pelo fascismo.
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Só tem receio da escola e dos educadores aqueles que não conhecem nem um nem outro. E não frequenta a realidade escolar. Professor ou professora são complementos da família. Ensinam os conhecimentos específicos de sua disciplina, enquanto estimulam a construção de valores, de relações de amizade, de auto conhecimento, de pensar crítico.
É isso que querem impedir?
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