Retrospectiva 2017: o bom, o mau e o feio

Não aguenta mais 2017? Nem a gente. E que melhor remédio para deixar essa desgraça de ano para trás do que uma retrospectiva para sabermos o que podemos esquecer e o que precisaremos levar conosco para mais um ano de luta por uma educação democrática?

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Janeiro

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Fonte: G1

Censura a livros didáticos em Ariquemes (RO)

Logo no começo do ano tivemos um dos primeiros grandes casos de censura a materiais didáticos motivados por aquela boa e velha homofobia. Sob ordens do prefeito da cidade de Ariquemes, Thiago Torres (PMDB), foram vetados de livros escolares trechos que tratavam de diversidade familiar. Como pode-se ver acima, as imagens censuradas contavam com representações chocantes de famílias felizes e sorridentes. Ainda bem que as crianças de Ariquemes não precisarão mais ser sujeitadas a um conteúdo tão inapropriado.

 

Fevereiro

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Fonte: Gazeta do Povo

Miguel Nagib compara professores a estupradores na Câmara dos Deputados

Mostrando que não há limites para a qualidade dos debates na Comissão Especial que avalia o “Programa Escola Sem Partido” no Legislativo Federal, o fundador do “escola sem partido” se superou em Fevereiro ao afirmar que os professores que criticam os projetos de lei “escola sem partido” poderiam ser comparados a estupradores buscando um pretexto para abusar de crianças e adolescentes. Afinal, por que usar argumentos quando falácias funcionam muito melhor.

 

Março

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Fonte: Conjur

Lei “Escola Livre” é suspensa em Alagoas por liminar do ministro do STF Luís Roberto Barroso

A vitória dos partidários do “escola sem partido” em Alagoas teve vida curta. Alguns meses após a aprovação e implementação do projeto análogo “escola livre”, a lei foi suspensa. A liminar foi resultado da Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino. Dentre os motivos apresentados no relatório do processo estão, pasmem, o caráter inconstitucional da lei.

 

Abril

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Fonte: Brasil de Fato

O grande perigo da reforma do ensino médio

Com a iminente implantação do “Novo Ensino Médio”, o prof. Fernando Penna (UFF) tratou das contradições e retrocessos representados pela proposta.

 

Maio

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Fonte: Nova Escola

“Uma noite com o Escola Sem partido”

A matéria do portal Nova Escola mostrou como os representantes do “escola sem partido” e a galerinha do barulho do MBL se comportam conduzindo um debate democrático – já adiantando, o resultado não é dos melhores. A retórica vazia de Nagib parece fazer um belo casal com a gritaria de Kataguri e cia.

 

Junho

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Fonte: Época

“Janot inicia ofensiva contra leis municipais que proíbem ‘ideologia de gênero’ em escolas”

Novo Gama (GO), Cascavel (PR), Paranaguá (PR), Blumenau (SC), Palmas (TO), Tubarão (SC) e Ipatinga (MG). Esses e vários outros municípios que aprovaram leis promovendo censura a debates de gênero nas escolas passaram a ser alvo de ações do Ministério Público Federal e da Procuradoria Federal de Direitos do Cidadão. Assim como com o “escola livre” de Alagoas no STF, o MPF apontou a inconstitucionalidade das leis como razão para a ofensiva (hum, é quase como se tivesse um padrão se formando aqui….)

 

Julho

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“Escola Sem Noção”

“Ok, Nagib era um pai paranoico que, querendo ajudar, estava atrapalhando a educação. Não é o primeiro nem será o último: até aí tudo bem, lida-se com isso. O mais maluco dessa história aconteceu mais recentemente, a partir de 2015, quando a crise política chegou ao fundo de poço de onde nunca mais saímos. Com os partidos políticos soterrados por denúncias, o Escola Sem Partido, compreensivelmente, começou a ganhar adeptos. Foi aí que algo bizarro aconteceu: diante da baixa popularidade dos partidos, sabe quem resolveu lucrar com o Escola Sem Partido? Acredite: os partidos.”

Além do já mencionado Nova Escola, outros portais como o Nexo também se destacaram em 2017 com análises e matérias incríveis cobrindo os debates do campo educacional. O trecho acima, é só um exemplo das várias leituras de qualidade que esses sites deixaram para nós ao longo do ano.

 

Agosto

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Fonte: A Casa de Vidro

“Escola ‘Sem’ Partido: esfinge que ameaça a educação e a sociedade brasileira”

Além do jornalismo, a produção acadêmica sobre o “escola sem partido” também deu um salto esse ano. Organizado pelo professor Gaudêncio Frigotto (UFRJ), o livro “Escola ‘Sem’ Partido” é só uma mostra do potencial que as pesquisas e trabalhos desse tipo podem ter no combate aos ataques à educação.

 

Setembro

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Fonte: Pragmatismo Político

A violência nas escolas e o ódio aos professores

Como se não bastasse a dor da agressão sofrida em sala de aula, a professora catarinense Marcia Friggi ainda teve que lidar com o assédio on-line de políticos como o deputado Marco Feliciano (PSC) e apoiadores da família Bolsonaro. O caso mostrou como problemas que já fazem parte do cotidiano das escolas podem ser ainda mais agravados por discursos que se alimentam do ódio à profissão docente e à educação.

 

Outubro

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Fonte: G1

Ensino religioso nas escolas e ameaças à laicidade na educação escolar

Indo na direção oposta da sugerida pelos defensores da separação entre Estado e instituições religiosas, o julgamento no STF sobre ensino religioso terminou com um resultado que não só permitiu a continuidade da prática, como também garantiu que ela existisse na sua forma confessional. Tchau laicidade e olá proselitismo religioso nas escolas.

Menção especial para o OLÉ e sua atuação na defesa do princípio da laicidade.

 

Novembro

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Fonte: Professores contra o Escola Sem Partido

Levantamento dos projetos de lei “escola sem partido” no Brasil – municípios, estados e federação

O maior projeto do ano para nós do Professores contra o Escola Sem Partido, em Novembro lançamos o nosso mapa interativo com o levantamento dos projetos de lei “escola sem partido” e semelhantes espalhados pelo Brasil.

 

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Fonte: Professores contra o Escola Sem Partido

O fim do critério de respeito aos direitos humanos na correção das redações do ENEM

Porque coisas ruins acontecem com pessoas boas, em novembro a Associação Escola Sem Partido teve acatado seu pedido para derrubada do respeito aos direitos humanos como critério para zerar redações no vestibular do ENEM. Com argumentos no nível de “direitos humanos é coisa da esquerda e do politicamente correto” (!), o “escola sem partido” a decisão foi mantida pelo STF. É por isso que não podemos ter coisas legais.

 

Dezembro

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 Tese de doutorado sobre liberdade acadêmica e liberdade de ensinar recebe o Grande Prêmio Capes 2017

Se o destaque de dezembro é um indicativo para o que 2018 nos aguarda, então podemos esperar listas de leituras quilométricas com livros e pesquisas importantes sobre termos e expressão que estão constantemente em disputa. E, no que diz respeito ao “escola sem partido” essa luta pelo sentido das palavras é particularmente intensa quando se trata de liberdade de ensinar. Para todas e todos que estão nessa luta conosco, a pesquisa de Amanda Travincas pode ser uma boa porta de entrada.

 

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