Salomão Ximenes (UFABC)
Tabelinha em dois toques e uma deixadinha pra nova filantropia empresarial da educação
Na terça, dia 17/3, o ministro da educação baixou uma portaria incentivando formalmente a solução de improviso nas universidades para a crise do covid-19. Juridicamente é uma medida inócua, já que o próprio texto fala em respeitar “limites estabelecidos pela legislação em vigor” e tais limites são as regras de oferta presencial e da modalidade EaD, cuja alteração não é de competência exclusiva do ministro. Seu primeiro grande objetivo é mesmo respaldar o informal e o ilegal, dar apoio moral às iniciativas de experimentação hoje em curso.
O segundo objetivo é acelerar a decisão, já que obriga as instituições a “aderir” a tal excepcionalidade até o fim do mês! (Aliás, a gestão do “MEC” é recorrente em pedir “adesão” ao vento, veja-se o debate sobre o Future-se em julho e agosto do ano passado). Evidente que, respeitado o voluntarismo e certo heroísmo didático de colegas que tentam seguir seus cursos por meios não convencionais, e em muitos casos sem o respaldo (positivo ou negativo) de suas instituições, não é material, formal e legal possível estruturar uma proposta de EaD sob tais condições.
Essa impossibilidade é a deixadinha!
Eis que hoje nós, docentes, fomos bombardeados com um spam de duas enormes firmas do mercado educacional: Cengage e DTCOM. Aparentemente, o esqueleto cartilaginoso de ambas permite manobrar certa filantropia em tempos de crise e confusão, sob os auspícios indiretos do MEC e apostando na conquista de um valioso e simbólico mercado, as principais instituições de ensino do País. A chamada, que abaixo copio, é de um cinismo quase comovedor: CORONAVÍRUS – CENGAGE & DTCOM – “SOMOS RESPONSÁVEIS PELOS OUTROS E PARA OS OUTROS”. Prometem acesso gratuito a todo o conteúdo educacional das firmas e fazem o devido agradecimento ao MEC; reconhecem assim a origem da jogada, o passe e a deixadinha. Contudo, se você, colega ou instituição de ensino, quiser acessar tamanho benefício, não o encontrará franqueado o acesso mas terá que procurar o “consultor” indicado.
Há quem consiga jogar na situação atual.
Leia aqui em seguida o complemento a este texto feito pelo professor Fernando Cássio (UFABC)
O texto do Fernando Cássio não está disponível.
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Rodrigo, obrigada pelo aviso! Colocamos o link agora.
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